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A panela de pressão da Gávea e a fritura de José Boto na Disney FLA

  • Writer: Igor Schulenburg
    Igor Schulenburg
  • Jul 7
  • 3 min read

Updated: Aug 19

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Era para ser apenas mais uma contratação. Mais um nome na extensa lista de reforços que o Flamengo. Mas o que ninguém esperava é que um atacante irlandês de 26 anos, que poucos torcedores conheciam até a semana passada, seria o estopim para expor as fraturas internas de um clube que, apesar do bom desempenho em campo, ferve nos bastidores.


Mikey Johnston. Grave esse nome. Não porque você o verá com a camisa rubro-negra – isso não acontecerá –, mas porque ele entrou para a história do Flamengo como o jogador que nunca jogou, mas que pode ter mudado os rumos da gestão atual.


A história começa como tantas outras no futebol moderno: negociações discretas, valores discutidos em salas fechadas, relatórios técnicos analisados. José Boto, contratado com a promessa de profissionalizar o departamento de futebol do Flamengo, havia batido o martelo: Mikey Johnston seria o primeiro reforço da janela de julho.


O atacante irlandês, que pertence ao West Bromwich da segunda divisão inglesa, custaria 5 milhões de libras (aproximadamente R$ 37 milhões) aos cofres rubro-negros. Um valor considerável para um jogador que marcou apenas três gols na última temporada, mas que, na visão de Boto, tinha potencial para se destacar no futebol brasileiro.


Tudo parecia encaminhado. Johnston já tinha acerto com o clube, passagem aérea comprada e chegaria ao Rio de Janeiro nesta terça-feira. Mas então, como um tsunami que surge no horizonte sem aviso, veio a reação.


Nas redes sociais, a torcida do Flamengo reagiu com indignação. "Quem é esse Johnston?", "Mais um Juninho?", "37 milhões por um reserva da segunda divisão inglesa?". As críticas se multiplicaram, ganharam corpo, viraram trending topics.

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O que poderia ter sido apenas mais uma onda de insatisfação momentânea nas redes sociais ganhou contornos institucionais quando vozes influentes dentro do próprio clube começaram a questionar a contratação. Conselheiros, dirigentes, pessoas próximas ao presidente Luiz Eduardo Baptista, o BAP, manifestaram desconforto com o valor e o perfil do reforço.


E então veio o golpe: BAP, que havia prometido em sua campanha e em sua única entrevista coletiva como presidente que "não iria se meter nas escolhas do diretor técnico", decidiu vetar a contratação. A justificativa oficial? Um relatório do departamento médico sobre o histórico de lesões do jogador – curiosamente, sua última lesão significativa foi em março de 2022, há mais de três anos.


A desautorização pública de Boto expôs o que muitos já sussurravam pelos corredores da Gávea: o diretor português, contratado com pompa, vive seu momento mais delicado no clube. E não é apenas por causa de Johnston.


Desde sua chegada, Boto acumulou desgastes. A forma como conduziu a negociação de Victor Hugo, que seria cedido de graça ao Famalicão de Portugal, causou espanto. A maneira como lidou com o caso Lorran, joia da base que foi escanteada após uma negociação frustrada, gerou críticas até do Madureira, clube formador do garoto.


Mas o pior: o relacionamento com os medalhões do elenco. Gerson, recém-transferido para o Zenit da Rússia após uma novela que incluiu até nota oficial do clube com indiretas ao jogador. Pedro, artilheiro e ídolo, que teve seu nome ventilado em possível negociação por valores considerados baixos. Arrascaeta, maestro uruguaio que sinalizou interesse em renovar e encerrar a carreira no clube, mas viu as negociações serem congeladas sem explicação.


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"O tempo põe cada um em seu lugar, cada rei em seu trono e cada 🤡 em seu circo", postou Arrascaeta no final da semana passada, em mensagem interpretada internamente como uma indireta ao diretor português.


A panela de pressão está prestes a explodir. José Boto entrou em rota de colisão com o Presidente BAP após a desistência da contratação de Mikey Johnston. Todas as negociações em andamento estão paralisadas até a conversa entre os dois.


Fontes próximas ao diretor indicam que ele avalia pedir demissão. Não esconde a insatisfação com o veto público e o aumento da "fritura" interna. Do outro lado, BAP, que apostou todas as suas fichas na contratação do português, se vê em uma encruzilhada: manter um diretor desgastado ou admitir o erro e recomeçar do zero, com a janela de transferências batendo à porta.


O mais irônico é que, em campo, o Flamengo está vivo em todas as competições e apresenta um futebol que pode não agradar a todos, mas de forma geral, sim. E como sempre na história recente do clube, o bom momento esportivo parece insuficiente para conter as crises políticas.


Enquanto isso, a torcida observa (perplexa ou acostumada?) mais um capítulo da novela sem fim que é a gestão do Flamengo. Mikey Johnston, que provavelmente jamais entenderá completamente o furacão que seu nome causou, seguirá sua carreira longe do Rio de Janeiro. Mas seu legado no Flamengo já está garantido: o irlandês que nunca vestiu a camisa rubro-negra, mas que pode ter mudado os rumos do clube. E, no processo, expôs as fraquezas de um Fla que ainda não aprendeu a lidar com seu maior adversário: ele mesmo.


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