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Arbitragem no Brasileirão 2025: lances interpretativos vs. erros incontestáveis

  • Writer: Maiara Ramos Siqueira
    Maiara Ramos Siqueira
  • Oct 21
  • 6 min read
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O Campeonato Brasileiro de 2025 foi palco de intensas discussões sobre decisões de arbitragem em duas partidas cruciais: Flamengo versus Palmeiras no Maracanã e Palmeiras versus São Paulo no Morumbi. Embora alguns setores da mídia e indivíduos ligados ao Palmeiras tenham tentado equiparar os incidentes, uma análise aprofundada revela que os lances possuem naturezas fundamentalmente distintas. Um deles se enquadra na categoria de lance polêmico, sujeito a múltiplas interpretações, enquanto o outro constitui um erro crasso de arbitragem, amplamente reconhecido como um equívoco inequívoco. Esta reportagem visa diferenciar ambos os casos, elucidar por que não são equivalentes e examinar os possíveis interesses subjacentes à narrativa que buscou igualá-los no contexto do Brasileirão 2025.


Distinção fundamental: lance polêmico vs. erro de arbitragem

No futebol, é crucial distinguir entre um lance polêmico e um erro de arbitragem. Um lance polêmico ocorre quando uma jogada gera interpretações divergentes, mesmo entre especialistas, pois a regra permite margem para o julgamento do árbitro, permanecendo no terreno da discussão e da opinião. Em contraste, um erro de arbitragem caracteriza-se por uma falha clara e incontestável na aplicação das regras, resultando em uma decisão que é quase universalmente considerada errada. Erros crassos frequentemente provocam pronunciamentos oficiais de órgãos reguladores, como a CBF, e podem levar ao afastamento de árbitros. Os jogos Flamengo 3x2 Palmeiras e Palmeiras 3x2 São Paulo no Brasileirão de 2025 servem como exemplos claros dessa distinção: o primeiro teve arbitragem interpretativa, enquanto o segundo apresentou um erro flagrante, um pênalti ignorado que a própria comissão de arbitragem da CBF reconheceu posteriormente como um equívoco.


Flamengo x Palmeiras: as controvérsias do Maracanã

A vitória do Flamengo por 3x2 sobre o Palmeiras, pela 29ª rodada do Brasileirão, foi marcada por reclamações palmeirenses. Um dos primeiros incidentes ocorreu aos 3 minutos de jogo, quando o Palmeiras reivindicou a marcação de um pênalti em Gustavo Gómez. O árbitro Wilton Pereira Sampaio não assinalou a infração, e o VAR, após rápida checagem, concluiu que o contato não possuía impacto suficiente para caracterizar uma falta, classificando-o como “braço de referência, sem impacto para empurrão” [1, 2]. O comentarista Paulo César de Oliveira, ex-FIFA, manifestou sua discordância, afirmando que houve um empurrão claro e que a penalidade máxima deveria ter sido assinalada [3]. Essa divergência de opiniões é um indicativo clássico de um lance polêmico, onde a interpretação subjetiva da regra desempenha um papel central. A CBF não apontou erro formal nem puniu os árbitros, reforçando a natureza interpretativa da decisão.


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Outro ponto de discórdia significativo foi o pênalti a favor do Flamengo, que resultou no segundo gol. Aos 42 minutos do primeiro tempo, Pedro foi pisado pelo zagueiro Bruno Fuchs, do Palmeiras, em uma disputa de bola. O árbitro prontamente marcou a penalidade [4]. O Palmeiras contestou a origem da jogada, alegando uma falta de Danilo sobre Vitor Roque não marcada e um suposto empurrão de Pedro em Fuchs [5]. Contudo, o VAR revisou os lances e considerou o choque entre Pedro e Fuchs como um contato normal de jogo, sem infração prévia, confirmando a marcação do pênalti pelo pisão de Fuchs [6]. Paulo César de Oliveira também corroborou essa visão, validando a marcação do pênalti para o Flamengo e classificando o “encontrão” como um lance comum [7].


Em síntese, o confronto no Maracanã, embora repleto de lances discutíveis, não alcançou um consenso absoluto sobre a ocorrência de erros graves. A possibilidade de um pênalti para o Palmeiras no início da partida permaneceu no campo da interpretação, com especialistas divergindo. Já o pênalti a favor do Flamengo foi amplamente considerado legítimo, uma falta clara de Fuchs em Pedro, confirmada pelo VAR [8]. O próprio diretor do Palmeiras, Anderson Barros, admitiu após o jogo que não responsabilizaria a arbitragem pelo resultado da derrota [9]. A CBF divulgou os áudios do VAR, onde o raciocínio da arbitragem nos lances capitais ficou claro, sem identificação de erro factual, reforçando que as decisões foram tomadas dentro do protocolo e da margem de interpretação permitida [10, 11]. Portanto, Flamengo x Palmeiras teve uma arbitragem questionada, mas inserida no contexto de polêmica interpretativa, e não de um erro grotesco e indiscutível.


Palmeiras x São Paulo: o erro crasso do Morumbi

No clássico Choque-Rei, dias antes, o Palmeiras venceu o São Paulo por 3x2, de virada. Este jogo foi marcado por um erro de arbitragem gravíssimo, reconhecido por todos, incluindo a CBF. Aos 7 minutos do segundo tempo, com o São Paulo vencendo por 2x0, Gonzalo Tapia foi visivelmente derrubado dentro da área pelo volante Allan, do Palmeiras [12]. O pênalti claríssimo não foi assinalado pelo árbitro Ramon Abatti Abel, que interpretou (equivocadamente) que Allan havia escorregado e que o contato era acidental. O VAR, comandado por Ilbert Estevam, também falhou ao não intervir [14]. A gravidade do erro é maior porque Allan já tinha amarelo, e a falta resultaria em sua expulsão, com o São Paulo podendo abrir 3x0 e ter um jogador a mais.


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A decisão gerou protestos imediatos e veementes do São Paulo, que publicou nota oficial e contatou a CBF [15]. Diante da pressão, a Comissão Nacional de Arbitragem da CBF admitiu o equívoco. Em 09/10/2025, a CBF divulgou os áudios do VAR e afastou o árbitro e o VAR para reciclagem, reconhecendo o pênalti não marcado em Tapia como erro grave [16]. A imprensa foi unânime: não havia interpretação para justificar a não-marcação. Mauro Cezar Pereira resumiu: “O lance do Morumbi foi um erro” [17]. As consequências esportivas foram imensas. O São Paulo poderia ter garantido a vitória, mas o Palmeiras permaneceu vivo, virou o jogo para 3x2 e assumiu a liderança do campeonato [18].


O equívoco influenciou diretamente o resultado, beneficiando a equipe que cometeu a infração. Este é um exemplo paradigmático de erro de arbitragem inquestionável. A atuação de Ramon Abatti Abel foi contestada em outros lances, como a não expulsão de Andreas Pereira [19] e Bobadilla [20], e possíveis faltas antes de gols palmeirenses [21]. Contudo, nada se compara à penalidade não marcada em Tapia, o ápice dos erros, que gerou unanimidade de que o árbitro errou, diferentemente do Maracanã.


A narrativa “anti-Flamengo”: por que comparar o incomparável?

A persistência em equiparar os eventos de Flamengo x Palmeiras e Palmeiras x São Paulo, apesar das diferenças, pode ser explicada por fatores estratégicos e midiáticos. Um deles é o desvio de foco e a relativização. Após o clássico contra o São Paulo, o Palmeiras foi criticado pelas vantagens obtidas com a arbitragem. Reclamar da arbitragem contra o Flamengo serve para diluir as críticas ao Palmeiras, criando a percepção de que “todos os times também são prejudicados”. A mensagem seria: “Se houve erros a nosso favor contra o São Paulo, também houve erros contra nós no Maracanã”, atenuando a gravidade do erro no Morumbi.


Outro fator é a pressão psicológica na reta final do campeonato. Com Flamengo e Palmeiras disputando o título, a narrativa de que o Flamengo é beneficiado pela arbitragem pode influenciar a comissão e os juízes em futuras partidas. Se a ideia de “Flamengo ajudado” ganha força, árbitros podem se tornar mais cautelosos ao marcar lances a favor do Flamengo. O diretor palmeirense Anderson Barros acusou jogadores do Flamengo de “pressão sobre a arbitragem” e solicitou ação do STJD [22], demonstrando a consciência do poder da narrativa.


Por fim, a rivalidade e o engajamento midiático são cruciais. Flamengo e Palmeiras protagonizam a maior rivalidade interestadual. A torcida do Flamengo, a maior do Brasil, gera antipatias. Setores da mídia paulista usam críticas ao Flamengo para gerar engajamento entre torcedores rivais. Historicamente, há má vontade de parte da imprensa de SP com o sucesso do Flamengo. Com o campeonato aquecido, polêmicas viram combustível para debates inflamados, gerando audiência. É uma tática para acirrar a rivalidade, criando um “inimigo comum” e unindo torcidas.


Conclusão

A análise dos incidentes de arbitragem nos jogos Flamengo x Palmeiras e Palmeiras x São Paulo no Brasileirão 2025 revela uma clara distinção entre lances polêmicos e erros crassos. O confronto no Maracanã teve decisões interpretativas, enquanto o jogo no Morumbi foi marcado por um erro evidente e inquestionável, com impacto direto no resultado e reconhecimento oficial. A tentativa de equiparar esses casos, impulsionada por setores ligados ao Palmeiras e pela mídia, parece ser uma estratégia multifacetada para desviar o foco de um favorecimento, exercer pressão psicológica sobre a arbitragem e capitalizar sobre a rivalidade e o engajamento midiático. A análise objetiva é fundamental para evitar distorções e garantir a integridade das discussões sobre a arbitragem no futebol brasileiro.



Referências

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