Os dias mais demorados do ano
- Igor Schulenburg

- Nov 25
- 2 min read

Dizem que o tempo é relativo. Mas isso é porque ninguém avisou a Einstein o que é ser torcedor na semana de uma final de Libertadores.
Nada se move. O relógio boceja. Os dias empacam como atacante em má fase. A terça tem cara de segunda, a quarta de terça, a quinta parece que já aconteceu — e o sábado? O sábado está em algum lugar do futuro, inalcançável, como aquele gol que a gente quase fez em Montevidéu.
Enquanto isso, fingimos normalidade. Trabalhamos, socializamos, até pagamos os boletos. Mas qualquer semelhança com uma vida funcional é mera coincidência. A cabeça já está em Lima. E o coração… bom, esse nunca saiu do Maracanã.
Afinal, é o Palmeiras de novo.
A gente tenta fingir costume, tenta usar aquele tom blasé de “mais uma final”, mas a verdade é que estamos tremendo. Todos nós. Do mais cético ao mais místico. É a memória de 2021 esbarrando no orgulho de 2019, e a sensação de que, se o destino foi cruel uma vez, agora ele pode nos beijar de novo.
E nesse entretempo, a semana se arrasta como novela ruim.
Segunda já veio com gosto de sexta. Terça, pode ser histórica. Quarta depende de terça. E agora, quinta e sexta são apenas torturas psicológicas com nome de dia útil.
A cada notificação no celular, um mini-infarto: “Pedro treinou?”, “Arrasca tá inteiro?”, “Vai ter AeroFla mesmo?”, “Filipe vai de três zagueiros?”. A cada notícia, um cálculo emocional: será que dá pra sonhar? Será que não é melhor manter o pé no chão? Mas como manter o pé no chão se a cabeça já tá nas nuvens e o coração na arquibancada?
E aí vem o mais curioso: nesse desespero coletivo, a gente se encontra. Cada um no seu canto, na sua cidade, no seu fuso, mas todo mundo vivendo o mesmo tempo elástico. A mesma contagem regressiva torturante. A mesma mistura de fé e medo que só o futebol explica.
É aí que mora a beleza dessa espera.
Porque essa semana, embora nos enlouqueça, também nos une. Ela transforma desconhecidos em irmãos de camisa. Transforma bares em templos. Transforma sorrisos nervosos em promessas silenciosas: “se ganhar, eu tatuo”, “se ganhar, eu volto a ir à igreja”, “se ganhar, eu peço ela em casamento”.
No fundo, essa não é só a semana mais demorada do ano. É a semana mais viva.
Porque ela nos faz sentir tudo — o peso da história, o valor da camisa, a grandeza do que está em jogo. Ela nos lembra por que amamos esse clube, por que seguimos, por que sofremos. E por que, apesar de tudo, jamais trocamos isso por uma paz qualquer.
Sábado vai chegar. E com ele, o jogo. O grito preso. A lágrima engasgada. O destino, enfim, com hora marcada.
Até lá... respira.
Ou tenta.




















Comments