Quebrando tabu e mantendo a ponta
- Igor Schulenburg

- Sep 14
- 2 min read

Caxias do Sul amanheceu hoje com um misto de expectativa e tensão. Há décadas, o Alfredo Jaconi era palco de um silêncio rubro-negro: uma escrita que atravessou jogadores, técnicos, campanhas e promessas — o Flamengo não vencia o Juventude naquele gramado desde 1997. Mas neste domingo, o tabu finalmente cedeu.
O relógio marcava 32 minutos do primeiro tempo quando Arrascaeta, com a categoria que lhe é peculiar, se posicionou entre os zagueiros em um cruzamento venenoso vindo de Saúl Ñíguez. Cabeça certeira, placar aberto. O Flamengo respirou. O Juventude, que tentara impor ritmo com bolas paradas e escapadas pelas laterais, viu a bola redonda pender para o adversário. Não era só uma bola no fundo da rede — era apagar uma cicatriz histórica.
Durante toda a etapa inicial, o Flamengo jogou com autoridade. Posse de bola, paciência para furar linhas de marcação e, sobretudo, aproveitar os espaços que o campo oferece em Caxias quando o visitante liga o botão “pressão permanente”. O Juventude tentou responder, mas a precisão não esteve de seu lado. A chuva, o gramado pesado, o primeiro tempo — tudo conspirava contra os donos da casa.
Veio o segundo tempo, e o Juventude buscou reação. A torcida, incansável, vibrou em tentativas isoladas. Falta de contundência ofensiva, passes errados, bolas incrivelmente perigosas que paravam nas mãos do goleiro ou iam pela linha de fundo. O Flamengo soube explorar esse cenário, mostrando sua superioridade técnica, controlando os ritmos, alternando entre velocidade e cadência.
Aos 42 minutos da segunda etapa, já com o relógio quase decidido, veio o golpe final: escanteio cobrado e Emerson Royal, mais alto, mais frio, testa firme — 2 a 0. Gol que fechou não só o placar, mas também um longo capítulo de frustrações. A vitória, por fim, catalogada.
Nas notas pós-jogo, o técnico Thiago Carpini, do Juventude, reconheceu a diferença. Elogiou o desempenho coletivo, disse que sua equipe “entregou tudo o que podia” diante de uma engrenagem rubro-negra bem montada, mas admitiu que, em jogos desse nível, o menor deslize é fatal.
Do lado do Flamengo, a festa é dupla. Não apenas pelos três pontos que mantêm a liderança do Brasileirão — agora consolidada — mas por apagar quase três décadas de jejum. Arrascaeta igualou marcas pessoais; Emerson Royal saiu de campo como herói improvável, aquele que enterra fantasmas.
O Juventude, que permanece na zona de rebaixamento, sai com o aprendizado dolorido: jogar bem nem sempre basta. É preciso eficiência, sangue frio nos momentos decisivos, e, acima de tudo, acreditar que o fantasma do passado pode ser superado — às vezes, literalmente, logo ali, em Caxias do Sul.
No fim, não foi só sobre vencer. Foi sobre virar página e reafirmar: no futebol, tabu é feito para ser quebrado — especialmente quando há coragem para encarar o passado e força para construir o presente.






















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